quarta-feira, 4 de julho de 2012

Olhos Verdes


Olhos Verdes,  eu compus quando morava na Vila Buarque. É da mesma época que Metamorfose http://escunhos.blogspot.com.br/2011/01/preludio.html

São duas música pré-centralização. Nesse período, eu estava frustrado com o que eu compunha. Eu tinha as idéias, mas na hora do trabalho em si para trazer as músicas à tona, eu não ia em frente... Nesse época, eu descobri que sem muita transpiração, sem muito trabalho, as músicas não tomariam forma por si próprias...

Depois, descobri como colocar as idéias no papel e no violão, deixando o julgamento crítico de lado, em relação ao que eu produzia. Graças a isso, muitas vezes me deparei com o inesperado... e isso é maravilhoso!

Sem me dar conta, comecei a fazer algo que o William Burroughs usará há uns 50 anos. Em vários de seus livros, ele empregou a técnica de cut-up http://en.wikipedia.org/wiki/Cut-up_technique. Em alguns deles literalmente recortava a página em duas e juntava com outras páginas, criando sentidos completamentes inusitados (fold-in). O homem escreveu livros inteiros usando essa técnica!

Claro, a minha técnica não é tão radical, talvez... As vezes, vou escrevendo várias frases combinando com a melodia do que será a música e tiro de seu contexto original para colocar em outro lugar e vou produzindo novos sentidos.

Com Olhos Verdes foi diferente. Eu estava altamente influenciado pelos discos da década de 60 e 70 do Jorge Ben (Jor) e queria compor como ele. Contar estórias parecidas com as que ele contava:
 

E comecei a contar a estória desse cara que vai atrás da namorada e a namorada dele tomou um chá de sumiço. Ele faz drama, ela desdenha. Até aí, eu achava que seguia razoavelmente os passos de Jorge. Então, me ocorreu o refrão... eu falando do nada, de solidão e dos olhos verdes - uma homenagem metonímica à Silvia.

Já não era mais eu tentando fazer como o Jorge Ben. Finalmente me encontrava como compositor e escrevia algo que não deixava de ter a ver comigo, mas que também era universal. Eu me aproximava do Jorge de uma outra maneira, fazendo essa ponte que a arte permite entre o pessoal e o universal.

Mostrei a música para o Cris e o João com o nome de Mundo Inteiro. Eles gostaram, mas sugeriram mudar o nome para olhos verdes. Ficou melhor! Ainda hoje, o Cris sempre fala que das minhas músicas, essa é a que ele mais gosta. E eu sempre fico todo contente :)

Essa gravação, é uma das primeiras entre várias versões que fizemos para essa música. Gravamos em 2007, ano bastante produtivo para nós. Gosto dessa versão, por que conserva o calor do momento e por causa da bateria do João.

Antes da gravação, ensaiamos a música e ele foi criando a bateria. É uma das minhas favoritas dele!   

Depois de algum tempo, descobri que os acordes iniciais remetem a uma música do Curtis Manfield, que é simplesmente muito boa:

 


Um comentário:

  1. não havia mais solidão, neste mundo inteiro, neste mundo inteiro

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